Festas de Inverno no Nordeste Transmontano

Festas de Inverno no Nordeste Transmontano

O material aqui apresentado resulta do trabalho de investigação ao abrigo de uma Bolsa de Investigação (BI),  no âmbito do Financiamento Plurianual do IELT/FCSH-UNL, atribuído pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), para o Projecto Festas do ciclo de Inverno em Trás-os-Montes, e corresponde a um período de duração de seis meses[1], com coordenação científica da Prof. Doutora Paula Godinho.


[1] Com início em Outubro de 2010 e termo em Março de 2011, em regime de exclusividade conforme regulamento de formação avançada de recursos humanos da FCT.

Mapeamento de Festas de Inverno em Trás-os-Montes

Os objectivos passaram pela actualização do panorama festivo, incidindo de uma forma transversal sobre o contexto em que estas festas são celebradas, isto é, realizar uma primeira aproximação às aldeias onde se realizam e perspectivar sobre os processos actuais; desenhar a cartografia das festas e posteriormente organizar uma base de dados actualizada sobre as Festas de Inverno no Nordeste de Portugal. Este levantamento permitiu elaborar um novo modelo com a cartografia actual das festas. Esta base cartográfica configura-se como consequência da pesquisa assumindo a capacidade de divulgar e partilhar informação de uma forma clara e ordenada sobre a localização das festas do ciclo de inverno.

Mapeamento Festas de Inverno

Registos áudio | testemunhos orais

Transcrições | Registos áudio

Catalogação de dados | Fichas de Festas de Inverno

Uma vez concluído o trabalho de campo procedeu-se ao tratamento da informação. O material recolhido foi então compilado numa base de dados organizada a partir de fichas de catalogação individualizadas das festas.

Com base nas transcrições tratadas e nos apontamentos e reflexões obtidas em conversas e observações, configurou-se uma memória descritiva para cada uma das aldeias visitadas que apresenta de forma resumida o panorama festivo. Neste sentido, optou-se por catalogar as informações recolhidas mediante um sistema de fichagem bastante sintético. Como se pode ver em anexo, cada uma das ficha corresponde a uma aldeia visitada. Este suporte, pretende assim facultar um vasto conjunto de informação sobre o catálogo festivo, os respectivos elementos presentes no ritual que configuram as festas no seio da tipologia do ciclo de inverno e alguns apontamentos actuais relativos ao estado da arte, que contemple factores de mudança e intervenção dentro do panorama festivo. A descrição do catálogo festivo é acompanhada de transcrições dos registos efectuados no terreno, de maneira a enfatizar os  discursos e com a intenção de dar voz aos às gentes para comunicar a actual situação festiva. O corpo do texto oferece ainda um glossário onde se definem algumas das palavras de uso regional. Não obstante, apresenta informação cartográfica e ilustrativa das aldeias mapeadas de modo a situar o contexto e facilitar a sistematização dos dados. Relativamente aos mapas, o primeiro que aparece situa o concelho ao qual pertence a freguesia tratada nos limites administrativos do distrito de Bragança, no segundo,  pode verificar-se o concelho isolado, assinalando a freguesia em questão.

CatalogaçãoDados_Fichas

Antropologia Visual

Dotadas de uma enorme dimensão estética possibilitada pela simbologia dos elementos e significação ritual, as festas de inverno apresentam-se como uma das manifestações visuais que sugerem uma construção discursiva mais participativa de imagem como forma mais objectiva de representação do actual estado da arte. Neste sentido, adoptou-se uma linha de acção orientada para a reflexão em torno das questões de uma antropologia de urgência assumida nas formas narrativas de carácter audiovisual, do filme etnográfico e documental. Uma antropologia multisituada voltada para o registo dos aspectos da cultura popular que suscita uma pluralidade de interpretações das formas rituais, assume uma grande relevância cientifica uma vez que as manifestações visuais fixadas pela imagem permitem uma análise dos corpos, símbolos e signos da cultura mais detalhada.

Festa da Cabra e do Canhoto | 14′, 2011

Sinopse

Em Cidões, aldeia anexa à freguesia de Vilar de Peregrinos, concelho de Vinhais, o calendário festivo das festas de inverno celebra-se na noite de Todos os Santos a 31 de Outubro. A “Festa da Cabra e o Canhoto” que decorre na encruzilhada do cimo do povo, na noite das bruxas, é uma celebração muito peculiar e revestida de uma enorme significação, caracterizada pela carga simbólica inerente aos seus elementos festivos. O canhoto, grandes troncos de madeira, representa o diabo e a cabra machorra (cabra velha estéril) simboliza a mulher do mesmo. Esta contém propriedades profilácticas para os seus comensais e diz a lenda que “quem a cabra comer e ao tronco se aquecer, um bom ano vai ter”, ou seja uma manifestação para afugentar a má sorte.
À meia noite, no cimo de um carro de bois puxado pelos rapazes, aparece uma personagem mascarada aludindo ao diabo, que surge em manifesto do seu desagrado pelo facto de se comer a sua mulher, a cabra. Numa noite em que os actos de transgressão são aceites e tolerados pela comunidade, são muitas as manifestações da desordem que invadem a noite na aldeia, para literalmente a “virar do avesso”.

Festa da Cabra e do Canhoto from Pedro Grenha on Vimeo.

Ficha Técnica

Realização | Pedro Grenha
Imagem, Som e Montagem | Pedro Grenha
Enquadramento Científico | Pedro Grenha, Savina Lafita
Linha Gráfica | Pedro Grenha
Voz off | Mª Alice Castanheira
Fotografia capa/Dvd | Savina Lafita
Formato | DV Pal 16:9
Som | Stereo
Duração | 14′

Caretos de Vila Boa. Do Natal ao Entrudo| 14′, 2011

Sinopse

Em Vila Boa de Ousilhão, outrora as festas do ciclo de Inverno integravam também as Festas de Rapazes celebradas em honra de Santo Estêvão, a 26 de Dezembro. Nesta celebração, os máscaras, dotados de uma significativa carga simbólica assumiam a função de zelar pela mesa de Santo Estêvão. No entanto, no final da década de 40, esta tradição caiu em desuso devido aos processos contemporâneos de mudança social e os máscaras passaram a vestir-se apenas por ocasião do Entrudo.
Nestas festas são várias as personagens mascaradas que aparecem no seio de uma dinâmica desfasada dos actos padronizados que caracterizam os desfiles carnavalescos, de projecção externa. Os máscaras, também conhecidos como caretos, vestem os seus fatos elaborados a partir de antigas colchas manufacturadas no tear e, geralmente envergando uma máscara de madeira, adoptam aqui uma postura de transgressão, representando os agentes da desordem. Por outro lado, as figuras designadas por madamas e marafonos, surgem com roupas do sexo oposto e de cara tapada para ocultar a identidade, com o intento de provocar o público.
Em suma, trata-se de um registo que pretende situar a realidade actual das Festas de Inverno em Trás-os-Montes, questionando as transformações ocorridas no interior do processos ritual, e os novos processos de comunicação inerentes às festas ditas “para dentro”, voltadas para a comunidade.

Caretos de Vila Boa. Do Natal ao Entrudo from Pedro Grenha on Vimeo.

Ficha técnica

Realização | Pedro Grenha
Imagem, Som e Montagem | Pedro Grenha
Enquadramento Científico | Pedro Grenha
Legendagem | Pedro Grenha
Linha Gráfica | Pedro Grenha
Voz off | Silvana Gonçalves
Fotografia capa/Dvd | Yacopo Brizzi
Formato | DV Pal 16:9
Som | Stereo
Duração | 14’

Bila Chana. Gentes em Festa | 25′, 2011

Sinopse

“Bila Chana, gentes em Festa”, sugere uma leitura sobre o panorama festivo actual no nordeste transmontano inscrito nas celebrações do Ciclo de Inverno. Resulta de um processo de pesquisa prévio no qual se assinalaram as especificidades do catálogo de elementos, da sua organização, da ritualidade associada à obtenção do fundo cerimonial, da especificidade das figuras envolvidas, que a “Festa da Velha” em Vila Chã da Barciosa, concelho de Miranda do Douro, sugere. É um documentário que aborda questões que se prendem com a Antropologia da festa e a Etnomusicologia, apreendendo o fluxo e a dinâmica das acções e modos das gentes. Procura compreender-se a cerimónia e sua significação explorando a contiguidade existente entre esta e os usos e costumes de uma sociedade de cunho agrícola, onde as práticas da cultura se continuam a reproduzir num contexto ainda rural, que não se mostra totalmente autonomizado da agricultura. Trata-se de um registo etnográfico, uma visão localizada que incorre na tentativa de assinalar as rupturas ocorridas no espaço e no tempo e as novas variantes que daí derivam, assim como entender os novos enquadramentos da sequência ritual.

Bila Chana. Gentes em Festa from Pedro Grenha on Vimeo.

Ficha técnica

Realização | Pedro Grenha e Rui Cacilhas
Imagem e Montagem | Rui Cacilhas
Sonoplastia | Pedro Grenha
Enquadramento Científico | Pedro Grenha
Linha Gráfica | Pedro Grenha
Mistura e edição de som | Carlos Olivença
Tradução | Lara Portela
Fotografia capa | Frame vídeo
Formato | HD16:9
Som | Stereo
Duração | 25’

http://bilachana.wordpress.com/

Colóquio Festas do Ciclo de Inverno no Nordeste de Portugal
em homenagem a Noémia Delgado

Coordenação científica | Prof. Doutora Paula Godinho
Organização | Amanda Guapo, Pedro Grenha e Savina Lafita – IELT
Edição gráfica | Pedro Grenha

Este colóquio encerra assim a bolsa de investigação, no qual foram apresentados os resultados e o conhecimento obtido durante a mesma e apresentadas algumas comunicações relativas a estudos de caso. Um evento para o qual foram endossados convites a cientistas sociais a apresentar trabalho realizado no âmbito da temática, num espaço de reflexão em torno das questões actuais sobre as festas de inverno. Em suma, uma contribuição para formulações teóricas sobre o estado da arte, da festa e seu contexto actual. O colóquio surge aqui com o intuito de fundamentar e enquadrar as práticas e rituais festivos, problematizando os actuais paradigmas e proporcionando momentos de debate com o público.

Em baixo segue o cartaz de divulgação do evento e o respectivo programa.

Desdobrável_Colóquio