Centro de Artes e Ofícios | Trás di Munti

O Centro de Artes e Ofícios tem como missão promover o acesso da população local ao desenvolvimento e a consequente melhoria da qualidade de vida. As suas acções têm como base a cultura local: promovem a auto-estima e a consciência dos valores patrimoniais nos domínios ambiental e cultural, privilegiam como áreas preferenciais de estudo as Artes, as Ciências da Natureza e as Ciências Sociais. A Educação é o eixo estruturante. Promovem-se acções de formação que visam capacitar os actores locais para as actividades tradicionais,
incentivando a inovação, fomentando a multidisciplinaridade. Pretende-se contribuir para a aproximação desta comunidade a padrões de sustentabilidade mais equilibrados e fixar na comunidade valores patrimoniais e culturais, tornando- os acessíveis a um leque diferenciado de visitantes.
O Centro Interpretativo apresenta uma exposição baseada na cultura material do Lugar, numa vertente etnográfica. O visitante pode obter informações relativas à topografia e história do local. O conteúdo deste espaço pretende constituir uma fonte de conhecimento directo para quem o visita, através de painéis informativos. Nesta exposição, podem apreciar-se algumas peças antigas de cultura material, olaria, panaria e cestaria, assim como os instrumentos utilizados na sua execução. Através de documentação audiovisual, podem ainda conhecer-se a cadeia operatória e os contextos de uso destes objectos.
Esta exposição, centrada na valorização e divulgação das técnicas tradicionais do “saber fazer”, constitui-se como um importante suporte na projecção e conservação deste património.

“Lugar” é o resultado da experiência de quem o habita ou de quem o visita. O contacto com o outro transforma e reinventa, criando novos “lugares”.

Painéis | Centro de Artes e Ofícios

Circuitos Temáticos
Os circuitos propõem a interpretação da paisagem recorrendo a guias especializados e a gentes do território local conhecedores de saberes particulares. Articulando saber popular e conhecimento científico, ouvindo estórias, questionando e evocando memórias e vivências, descodificam-se marcas culturais.

O C.A.O. apresenta-se como um espaço que permite a fixação de valores patrimoniais e culturais, associados à formação e à vertente turística, um espaço que fomenta a multidisciplinaridade.

Olaria Tradicional

Da olaria, resultam objectos dotados da capacidade de evocarem, através da matéria-prima, da morfologia, da decoração e da técnica, a produção material tradicional ou “antiga”, uma indiscutível função de património histórico e cultural.

Cestaria Tradicional

A natureza dos materiais empregues passam pelos recursos endémicos de fibras vegetais de carriço e tara de coqueiro.
A partir da técnica do entrançado são concebidos objectos com enorme carga e valor utilitário na quotidianidade.

Panaria Tradicional

Os motivos decorativos dos panos surgem como elementos emblemáticos e do processo histórico de criolização.Confeccionados em teares rudimentares, utilizam como matérias-primas o algodão, na tecelagem e o anil,a purga e a urzela no processo de tinturaria.

Arquitectura Tradicional

A linguagem arquitectónica fundamenta-se no uso de matérias-primas locais e técnicas tradicionais de construção, resultando assim numa arquitectura ecológica, sustentada e eficaz.

Olaria

A olaria é feita por mulheres e desenvolvida de acordo com técnicas ancestrais de origem africana. Define-se como uma actividade doméstica sazonal, numa economia informal.Realiza-se na época seca e é um modo de subsistência alternativa ou complementar da actividade agrícola. A louça utilitária de cor alaranjada é designada por louça de água (potes, potinhos e moringos), louça de fogo (panelas, bindes e fogareiros), louça de mesa (bandejas, travessas e tigelas), e ainda louça de tingir (pote de “tinguí”).
Os motivos decorativos geométricos ou figurativos podem ser em relevo, com aplicações plásticas ou incisos. É através da forma e da decoração das peças que as oleiras conferem a marca da oficina. O figurado, enquanto forma de expressão, assume-se também através
de formas antropozoomórficas, reflexo do imaginário popular, tendo por base histórias e mitos.

Descrição da Cadeia de montagem (legenda)

Detalhes e estrutura da cadeia operatória e dos processos de intervenção técnica na conceptualização das peças de olaria.

1/ Depósito de barro, Barreiro de Riba Lá. 2/ Preparação/homogeneização da pasta. A sequência inicial consiste na triagem de substâncias indesejáveis (ganga). Esta fase do processo de tratamento da matéria prima, designada mondoda di barro consiste na pilagem da mesma desde o seu estado bruto até à obtenção da farinha di barro ou seja, uma matéria não homogeneizada que se apresenta em pó. 3/ Uma vez obtida a farinha do barro, a matéria está então preparada para ser submetida a um processo de homogeneização através da adição de água. 4 e 5/ Processo de modelagem, fase mais significativa da cadeia operatória. O processo de manufactura da olaria tradicional é assistido pela técnica de fidjós (“rolo”). 5/ Processo de secagem e retracção. O processo de secagem é a fase que antecede a enforna das peças. 6 e 7/ Enforna. A enforna é uma operação criteriosa na qual se procede à disposição das peças no campo de fogueira da estrutura do forno. 9/ A cozedura constitui a etapa da cadeia operatória através da qual as peças adquirem o seu estado definitivo. Tipologicamente, o forno é caracterizado por apresentar uma simples depressão circular, não muito acentuada ( 20cm) cuja se vai definindo em função das cozeduras aí realizadas, apresentando um diâmetro não superior a 3m. Esta estrutura
designada de forno (soenga)  constitui o processo tradicional de cozedura  ao ar livre em atmosfera oxidante. O material combustível constitui-se a partir dos recursos disponíveis, nomeadamente de origem animal – bosta de vaca e material de origem vegetal – palha do milho e lenha fina de acácia. 10 e 11/ Gestão da cozedura. A manutenção da cozida processa-se em função das condições atmosféricas.12/ Desenforna. É com esta fase que culmina o processo da cadeia operatória. A desenforna ocorre no dia seguinte à queima de modo a permitir o arrefecimento lento e gradual das peças.

Ornamento

Aplicações plásticas
As aplicações plásticas são entendidas no panorama da olaria como uma configuração de primeiro nível.
Constituem-se como caracteres figurativos modelados a partir da técnica de rolo/corda  aplicados na parede
externa do corpo da peça.

Esgrafitado
Na categoria das configurações secundárias, o esgrafitado é uma técnica que traduz a incisão dos motivos na
superfície das peças, quer através da inscrição rectilínea (linha) de formas geométricas, ou ainda pela inscrição do
traço ondulado. Esta técnica incisiva é executada com a pasta verde  utilizando uma ponta de arame, ou uma faca.

Tipologias  (legenda)

Pote de água
Está inserido na categoria da “louça de água”. Recipiente utilizado para armazenar água potável
e simultaneamente mantê-la fresca.

Moringo
Louça de água. Recipiente utilizado para transporte e reservatório de água potável,
utilizado tambem como elemento decorativo

Bandeja
Para além de se constituir como um utensílio no contexto de produção cerâmica, nomeadamente na oficina de olaria,
esta peça enquadra-se na tipologia da “louça de cozinha”. Deste modo, serve para o transporte de géneros alimentares,
assim como para armazenar a gordura animal extraída do porco.

Fogareiro
Peça de “louça de fogo”. É utilizada para cozinhar com carvão ou lenha. Normalmente a peça que se constitui como seu
elemento par é a “púcara”, paralelamente ao binde.

Binde
Tipologicamente uma peça de “louça de fogo”. É utilizada na confecção do cuscus de milho.

Memória das Oleiras de Trás di Monti

Tudinha Sanches Varela, Nha Lionicia, Maria Novo,
Nana Sanches Varela,  Etelvina Sanches Ferreira,
Hermínia Sanches Ferreira, Luísa Sanches Costa,
Maria Novo, Nita Gomes, Nha djin, Cofa Gomes,
Nhaina Gomes, Tita Tavares, Tchoia Tavares,
Nananti Tavares, Sacosinha Tavares, Biazinha  Tavares,
\Tudinha Borges, Bia Borges, Branquinha Gomes,
Nhanhinha Gomes, Joana Varela

Brochura | Centro Artes e Ofícios

Ficha Técnica

Concepção/ Pedro da Conceição, Pedro Grenha, Virgínia Fróis

Textos / Pedro Grenha

Revisão de Textos / Dulce Morgado Neves, José Pedro Nunes Soares, José Soares

Concepção Gráfica / Tiago Fróis

Fotografias / José Soares, Pedro Grenha, Tiago Fróis, Virgínia Fróis

Fotografia capa / Monte Graciosa, Tiago Fróis

Oficinas do Convento, 2009
6000 exemplares